Arquitetura para a arte ou templo do ego? Los Angeles tem um novo museu
Na moda que vem varrendo o mundo nos últimos anos, todo bilionário, ou melhor, colecionador bilionário que se preze precisa abrir seu próprio museu. O mais novo deles, exibido em esquema de soft opening para um grupo de 3.000 convidados nesta semana, é o Broad, megamuseu desenhado pela firma Diller Scofidio + Renfro a pedido do colecionador Eli Broad, em Los Angeles.
De fora, parece o que alguns críticos de arquitetura já apelidaram de “colmeia láctea”. Por dentro, espaços austeros, iluminados por claraboias, lembram uma versão high-tech ou nave espacial do teto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, obra-prima de Vilanova Artigas, em São Paulo.
Ainda branco e vazio, parece uma butique austera para a arte contemporânea, como convém nos cubos brancos de todo o planeta. Broad, que conheci na inauguração de outro museu de colecionador, o Jumex, do magnata das bebidas mexicano Eugenio López, tem uma bela coleção e sem dúvida pode ostentar todo seu esplendor nesse espaço.
Mas já no preview para VIPs, a estrutura do prédio desagradou alguns críticos. Em seu perfil no Instagram, Jerry Saltz, o principal crítico da “New York Magazine”, desancou a obra como um “cenário que odeia a arte”, “templo de patronos” e “espaço para eventos”, que serve para Broad, mas não para Los Angeles.
Vale lembrar que são os mesmos arquitetos por trás do Broad que estão desenhando a nova sede do Museu da Imagem e do Som, em plena praia de Copacabana, no Rio. Uma estrutura de galerias angulosas empilhadas umas sobre as outras com um mirante no topo, o prédio ainda em construção já se tornou um marco na paisagem da avenida Atlântica. Resta ver se vai funcionar.
Enquanto isso, arquitetos badalados vêm construindo museus a toque de caixa pelo mundo para clientes como Broad. François Pinault, o dono do conglomerado de luxo encabeçado pela Louis Vuitton, inaugurou em outubro passado, em Paris, um megatemplo para a coleção corporativa da marca desenhado por Frank Gehry.
No caso do Museu Jumex, obra do britânico David Chipperfield, na Cidade do México, ninguém pode criticar seus belos espaços expositivos. Mas quando a programação de um museu não pode abalar a reputação de uma marca, como é o caso da gigante de sucos e bebidas por trás do espaço, a situação se complica.
Uma mostra do artista austríaco Hermann Nitsch, conhecido pelo uso de carcaças animais em suas performances, estava planejada para abrir em paralelo à feira Zona Maco, que aconteceu no início deste mês na capital mexicana, mas foi cancelada pelo museu, que não prestou nenhum esclarecimento ao público.