Um Gauguin de US$ 300 milhões?

Silas Martí
'Nafea Faa Ipoipo (Quando se Casará?)', quadro de Paul Gauguin vendido por US$ 300 milhões nesta semana
‘Nafea Faa Ipoipo (Quando se Casará?)’, quadro de Paul Gauguin vendido por US$ 300 milhões nesta semana

Se for mesmo verdade, e tudo indica que sim, esta tela de 1892 do pós-impressionista francês Paul Gauguin entrou para a história como a mais cara obra de arte já vendida no planeta. O jornal “The New York Times” cravou na última sexta que a pintura feita na primeira das temporadas que Gauguin passou no Tahiti foi vendida pelo suíço Rudolf Staechelin para um comprador que, ao que tudo indica, é do Qatar, o riquíssimo emirado petroleiro no golfo Pérsico.

Não espanta que a agora mais cara pintura do mundo tenha o mesmo destino que “Os Jogadores de Cartas”, tela de 1890 de Paul Cézanne, vendida há quatro anos por US$ 250 milhões para a família real do Qatar. Ou seja, é bem provável, até por serem obras da mesma escola e mesmo período histórico, que sejam os mesmos compradores desbancando o próprio recorde.

'Os Jogadores de Cartas', tela de 1890, de Paul Cézanne
‘Os Jogadores de Cartas’, tela de 1890, de Paul Cézanne

É impossível aferir o valor real dessas transações porque são privadas e ambas as partes não são obrigadas a declarar quanto pediram ou quanto receberam, ao contrário dos regimentos das casas de leilão. Mas, para se ter uma ideia, a obra mais cara já leiloada na história foi “O Grito”, do expressionista norueguês Edvard Munch, vendida em Nova York por US$ 120 milhões há três anos, menos da metade do suposto valor pago agora pela tela de Gauguin.

'O Grito', tela de Edvard Munch, vendida por US$ 120 milhões
‘O Grito’, tela de Edvard Munch, vendida por US$ 120 milhões

Num mercado em plena recuperação na Europa e nos Estados Unidos, a notícia dessa compra só confirma o que já vinha sendo observado nos últimos leilões, que vêm batendo recordes de faturamento em Londres e Nova York –peças raras sairão por preços cada vez mais estratosféricos, desencadeando uma busca sem limites por parte dos colecionadores, uma boa parcela deles vinda das oligarquias endinheiradas do mundo emergente.

No caso específico do Qatar, que disputa com os Emirados Árabes Unidos o posto de primeiro lugar entre os destinos culturais do Oriente Médio, a ambição da família real é construir o maior museu de arte ocidental do planeta, transformando pinturas em troféus. Já compraram de tudo por ali, de Damien Hirst e Jeff Koons aos tesouros impressionistas que agora cobiçam.

Resta a dúvida sobre que impacto essa inflação sem limites movida a petrodólares terá no mercado da arte como um todo. Alguns analistas já arriscam que as potências do Ocidente já não têm compradores dispostos a pagar os preços que os príncipes do Qatar acham que vale um bom Gauguin.

Em tempo, a tela “Nafea Faa Ipoipo”, de Gauguin, poderá ser vista numa das mais ambiciosas retrospectivas já dedicadas ao artista, que entra em cartaz no fim deste mês na Fundação Beyeler, em Basileia. A mostra depois viaja para o Reina Sofía, em Madri. Em janeiro do ano que vem, o quadro já estará em poder do novo comprador, sem previsão de voltar à vista de meros mortais.