Uma dupla espanhola e sua estranha mania de embrulhar belos prédios
Um dos lugares mais belos do Rio, a piscina do Parque Lage ganhou ares de nave espacial ultracolorida no fim de janeiro, quando a dupla de artistas espanhóis Sergi Arbusà e Pol Clusella instalou uma enorme bolha de ar bem ali, uma estrutura penetrável imprensada contra as arcadas do pátio.
Não é a primeira vez que esses artistas de Barcelona fazem algo do tipo. Já ocuparam um restaurante em Beirute, um palácio em Paris, o Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, e até um antigo convento em Querétaro, no México.
Leia a seguir uma breve entrevista com Sergi Arbusà, metade da dupla Penique Productions, que mora no Rio.
Como vocês começaram essa série de intervenções arquitetônicas?
O projeto nasceu na Universidade de Barcelona com uma intervenção que eu fiz em 2007. Tem uma relação direta com a arquitetura, com o espaço, com o vazio e o cheio. Uma característica do trabalho é uma relação com a arquitetura. Essa primeira intervenção foi meio que um teste. A gente tinha que apresentar um trabalho, e eu não tinha nada. Eu decidi fazer um inflável que encheria a sala de aula para que ninguém conseguisse entrar. Aí eu descobri que plástico seria uma solução e, para encher o negócio, um ventilador faria o serviço. Mas reparei que conseguia retirar o ventilador e entrar dentro do inflável. Estava modificando a aula, não só impedindo o acesso. Estava me apropriando desse espaço para dar outra dimensão.
O que vocês levam em consideração na hora de escolher o lugar da intervenção?
A ação se planeja com a escolha do lugar. Esse é um passo muito importante. Não é fácil achar um lugar aberto para esse tipo de intervenção. A gente tem de lidar com as instituições. O espaço de uma galeria não é interessante para a gente, porque é um espaço branco e neutro. Então a gente procura um espaço que tenha esse interesse. A gente acaba lidando com essa lição.
Um dos projetos mais interessantes foi um desfile da Maison Martin Margiela em Paris.
Eles chamaram a gente para apresentar o desfile dentro de um inflável nosso. Nosso trabalho também vira um cenário, com caráter mais cenográfico do que obra a em si, porque estão acontecendo coisas dentro. Mas eles entenderam muito bem o nosso projeto. Eles alugaram um palácio lindo para a gente cobrir todo, o Hôtel Salomon de Rothschild.
Por que você se interessou em realizar uma ação no Parque Lage?
Estou no Rio desde 2008. Nessa época, eu conheci o Parque Lage e me interessei muito pelo lugar. Achei um lugar incrível, além de seu valor arquitetônico e pela história do Parque Lage. Eu fui atrás de fazer uma intervenção.
Seus infláveis são sempre de uma cor só, como o laranja, no caso do Rio. Por que?
Estamos trabalhando com o monocromo. Trabalhamos com a cor, mas uma cor que serve para unificar, assim como um mesmo plástico unifica todos os elementos do espaço. Queremos ressaltar a ideia de que é um objeto que está em relação com o espaço, com a arquitetura, com os acidentes dessa edificação. A ideia do monocromo vem da ideia de uma unidade, de fazer visível esse espaço como um todo, é positivar o espaço, tornar visível o espaço que está entre os objetos.