Björkgate: celebridade incômoda
Desde que entrou em cartaz no MoMA, em Nova York, a mostra dedicada à cantora Björk vem colecionando críticas mais do que ácidas. É consenso que a exposição organizada pelo alemão Klaus Biesenbach, um dos diretores do museu e responsável pelo espaço PS1, no Queens, é talvez um dos pontos mais baixos de toda a história do megamuseu nova-iorquino. Um dos conselheiros do MoMA comparou a montagem a uma “boate em Ibiza”, outros dizem que é um “fiasco”, ou a pior exposição de todos os tempos e daí para baixo.
Não vi a mostra ainda, então não sei se concordo ou discordo. Mas com gente como Roberta Smith, a crítica do jornal “The New York Times”, e Jerry Saltz, da “New York Magazine”, destruindo sem dó a exposição, algo me diz que algum problema deve haver. Mas o episódio, que já apelidaram de Björkgate, trouxe à tona um aspecto bizarro do mundo da arte nos dias de hoje.
Biesenbach, o curador à frente da exposição, vem sendo crucificado pela crítica especializada e por comentários nas redes sociais. Björk, pelo menos em quase todas as ocasiões, vem sendo poupada, mas ele, o curador, é acusado de querer se autopromover às custas de gente, de fato, famosa.
Quem conhece Biesenbach, ou pelo menos segue o que posta no Instagram, sabe quem são seus amigos. Ele não larga Lady Gaga, James Franco e Marina Abramovic. Também já foi visto circulando com Madonna, Gwyneth Paltrow, Kim Cattral, a Samantha do “Sex and the City”, e afins. Sua conduta é o maior exemplo de como as artes plásticas decidiram parasitar a indústria do entretenimento, ou vice-versa, em busca de mais buzz e purpurina.
Na encruzilhada entre se manter como guardião da cultura erudita e agradar hordas de turistas que se aglomeram todos os dias às suas portas, o MoMA patina. Tenta manter a postura, mas deu passe livre para que Biesenbach organizasse exposições capazes de turbinar as bilheterias, das sessões de Marina Abramovic com o público, trunfo dele, à catástrofe chamada Björk.
Um texto publicado no site Artnet nesta semana, que viralizou como sex tape, fez nada menos do que pedir a cabeça de Biesenbach. Segundo o autor Christian Viveros-Fauné, o curador merece perder seu cargo por expor o MoMA ao ridículo. O comentário desencadeou uma perseguição ao curador e, na sequência, ao museu, numa onda de “MoMA bashing”.
É uma questão a ser encarada. Um dos fenômenos mais interessantes dos nossos tempos é entender como as artes visuais já desceram do pedestal e se misturaram à cultura como um todo, não mais ou menos erudita do que música, cinema, teatro e afins. Outro fenômeno é a ascensão da figura do curador como entidade influente e poderosíssima, estruturando gostos ao mesmo tempo em que é bajulado pelo mercado e toda sorte de tentação.
Biesenbach, se perder o posto, talvez se torne o mártir mais visível dos perigos do que significa ser ao mesmo tempo curador e celebridade. Ele não parece preocupado com isso. Se cair, é capaz de reverter a situação a seu favor e valorizar seu passe com outra instituição em algum canto do mundo que, ao contrário do MoMA, ainda precisa de muito buzz e purpurina.