Iguais na desigualdade, Brasil e África do Sul travam diálogo na SP-Arte
Uma das estreias mais aguardadas entre as galerias estrangeiras neste ano na SP-Arte, que começa na próxima quarta, é a da sul-africana Goodman, de Johannesburgo. No início deste ano, a casa abriu em sua filial da Cidade do Cabo uma mostra em que colocava em diálogo obras de brasileiros, como Nuno Ramos, Rosângela Rennó e Marcelo Cidade, com a produção local.
Nome mais poderoso do mercado artístico na África, a Goodman agora vem pela primeira vez a São Paulo tentar estabelecer uma ponte com o mercado brasileiro. Com obras de artistas como William Kentridge, talvez o nome mais famoso da África do Sul no circuito global, a Goodman também trabalha nomes que vêm despontando no continente, trazendo peças de artistas como os sul-africanos Carla Busuttil, Kendell Geers e Mikhael Subotzky e o zimbabuano Kudnazai Chiurai.
Faltando poucos dias para a abertura da feira, Lara Koseff, diretora artística da Goodman, conversou comigo sobre os interesses da galeria no mercado brasileiro. Leia a seguir alguns trechos da nossa conversa.
Qual é o interesse de uma galeria sul-africana em explorar o mercado brasileiro?
Estamos num processo de abertura de diálogo com outras partes do hemisfério Sul. E vemos conexões reais entre a África do Sul e a América do Sul, em especial o Brasil. No Brasil, é fácil nos identificarmos com uma democracia ainda jovem e com o fato de ser um país também ainda muito marcado pela desigualdade social no rastro de um momento de desenvolvimento econômico. Queremos explorar melhor essas conexões.
Já existe uma porta de entrada com a obra de William Kentridge, muito conhecida por aqui.
Sim. É verdade que muitos brasileiros já conhecem o trabalho dele, em especial por causa da retrospectiva dele que passou pela Pinacoteca. Isso gerou muito interesse, além de uma conexão profunda com a sua poética.
Que outros artistas vocês pretendem mostrar na SP-Arte?
Vamos ter peças de outros artistas que também achamos que possam ter uma conexão com o Brasil, como a Liza Lou. Ela é americana, mas vem desenvolvendo seu trabalho ao longo da última década na África do Sul, trabalhando com artesãos locais. Outro é o Hank Willis Thomas, também americano, mas que teve uma experiência muito rica na África do Sul. Alfredo Jaar, que representamos na África, é outro nome que estabelece uma forte conexão com o Brasil por suas discussões geopolíticas nessa região.