As melhores obras da Bienal de Veneza
The Propeller Group. Essa escultura do coletivo vietnamita The Propeller Group é na verdade o rastro de duas balas de metralhadora, uma M 16 e uma AK-47, disparadas contra um bloco de resina ainda líquido. Elas se encontram no meio do volume que depois se cristaliza e guarda a memória dos disparos.
Fabio Mauri. Na entrada da mostra principal nos Giardini, o italiano Fabio Mauri instalou sua máquina para pendurar aquarelas. Ao redor da estrutura estão desenhos do artista em que a palavra fim é repetida várias vezes.
Adel Abdessemed. Na primeira sala do Arsenale, junto de obras em neon de Bruce Nauman, os facões fincados no chão do argelino Adel Abdessemed servem de cartão de visitas desta Bienal de Veneza. É uma obra que sintetiza o tom da mostra organizada pelo nigeriano Okwui Enwezor.
Monica Bonvicini. Outro trabalho na mesma pegada de fúria latente é a instalação da italiana Monica Bonvicini, que pendurou do teto do Arsenale cachos de serras elétricas mergulhadas em graxa. Inúteis, as lâminas aqui só indicam que tudo pode mudar a qualquer instante, e a violência costuma ser a ferramenta de mudança na ordem do dia em tempos de conflitos acirrados.
Joana Hadjithomas e Khalil Joreige. A dupla de artistas libaneses criou uma instalação-performance. Cada dia um livro desses é lido por um ator. Nas páginas estão descrições de imagens que não existem, fotografias que teriam sido feitas por um fotógrafo também fictício e nunca reveladas. Nos negativos, estariam imagens das guerras que devastaram o país árabe ao longo de décadas, tão frescas na memória que nem precisavam ser documentadas.
Pino Pascali. Esse canhão levado ao Arsenale pelo italiano Pino Pascali remete à história do lugar como armazém bélico e aponta para uma instalação do norte-americano Terry Adkins, uma pilha de tambores com as baquetas amarradas para que nunca possam ser tocados. É mais um trabalho da linha de frente da mostra que fala de violência e conflito de maneira nada cifrada.
Steve McQueen. O artista e cineasta britânico famoso por “12 Anos de Escravidão” atualiza aqui um trabalho de 2002 em que havia filmado um pescador no Caribe. McQueen soube mais de uma década depois que seu personagem fora assassinado e enterrado como indigente. Ele então retornou à ilha onde conheceu Ashes e construiu um novo túmulo para o amigo. De um lado, a tela exibe as imagens do pescador nadando no mar. Do outro, são projetadas sequências da construção de sua nova sepultura.
Nidhal Chamekh. O artista tunisiano pergunta com que sonham os mártires numa série de desenhos. De traço firme e preciso, Chamekh justapõe elementos díspares, como ossos e armas de fogo, em suas composições.
Eduardo Basualdo. O artista argentino também contrasta a ideia de planejamento e síntese de um desenho com uma realidade dura e incontrolável. Neste trabalho, ele traça por cima das folhas de papel amassadas o caminho retilíneo dos trilhos metálicos que as sustentam.
Glenn Ligon. Sozinhas numa sala, as serigrafias monumentais do norte-americano Glenn Ligon repetem um mesmo mantra à exaustão. Com sua presença fugidia, as palavras falam em sair e mostrar algo a eles, os outros. Na sala ao lado, a também americana Adrian Piper escreveu em lousas que tudo será levado. É mais um exemplo em que obras se equilibram ou se neutralizam com discursos antagônicos na mostra italiana.