Desenho do novo Guggenheim em Helsinque vai contra o espetáculo
Ele pode nem ser construído, mas se sair do papel já tem uma forma definida. O Guggenheim escolheu nesta semana um projeto da firma francesa Moreau Kusunoki para o que pode vir a ser a mais nova sede do museu no mundo, em Helsinque. É fato que a fundação americana ainda batalha para pôr de pé mais uma filial, desenhada por Frank Gehry, em Abu Dhabi. Enquanto dinheiro não faltou nos Emirados Árabes até a crise econômica derreter os mercados pelo mundo, hoje o museu enfrenta protestos por abusos aos direitos dos tralhadores na cidade árabe e atrasos no andamento das obras.
Também não será nada fácil a situação na capital finlandesa. Embora o projeto tenha respaldo do prefeito, a ideia de construir mais um balofo ímã turístico nos moldes de Bilbao na enseada da pacata Helsinque ainda não conquistou as autoridades e boa parte dos moradores locais. Orçado em cerca de R$ 450 milhões, o Guggenheim Helsinque pode acabar sendo descartado, como já aconteceu com o projeto de um Guggenheim no Rio, que seria construído onde hoje erguem o Museu do Amanhã, de Santiago Calatrava.
No caso finlandês, a direção do Guggenheim respeitou o desejo de não esboçar para Helsinque nada esvoaçante e espetacular como as sedes de Bilbao e Abu Dhabi. Justificando a escolha, a fundação disse que o projeto da dupla Nicolas Moreau e Hiroko Kusunoki venceu por ser “distintivo e contemporâneo sem ser icônico”. De fato, o desenho de Moreau e Kusunoki lembra menos um museu e mais uma vila de pequenos pavilhões revestidos com madeira negra, um material típico da Finlândia. Ou seja, é menos um volume arrebatador e mais um aglomerado de espaços que podem ganhar a companhia de novos pavilhões ao longo da orla se for necessário.
Moreau e Kusunoki, aliás, construíram suas carreiras trabalhando para mestres como os japoneses Shigeru Ban e a dupla Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa, da firma Sanaa, todos vencedores do Pritzker. Tanto Ban, com quem trabalharam em seu Museu Nômade, quanto o Sanaa, com quem fizeram a filial do Louvre em Lens, na França, se firmaram no panteão da arquitetura contemporânea com trabalhos na contramão da gestualidade expansiva e às vezes boçal de nomes que explodiram na era dos “starchitects” dos anos 1990, como Gehry, que fez o Guggenheim de Bilbao e agora trabalha em Abu Dhabi, e Zaha Hadid. Mais sóbria, a escolha de Helsinque indica uma crise no poderio dos arquitetos-grife, já que a firma Moreau Kusunoki, mesmo com certo prestígio local, não tem o mesmo poder de fogo.