Damien Hirst cria seu próprio museu
Depois de uma avalanche de museus privados criados por colecionadores no mundo todo, Londres vai ganhar em outubro o primeiro centro cultural bancado por um artista. Também não é qualquer artista. A Newport Street Gallery, que ocupa três antigos galpões de fábrica com fachada de tijolinhos à vista no bairro de Vauxhall, sul da capital britânica, será inaugurada com uma mostra individual do pintor John Hoyland —o artista morto há quatro anos era, segundo Hirst, talvez o “maior pintor abstrato britânico”.
Sem julgar a obra de Hoyland, é curioso pensar que a moda de Hirst pode pegar. Nesse sentido, o artista milionário —e super-influente— parece estar adentrando uma nova seara de poder. Não basta criar uma escola —no caso dele, a do espetáculo e da provocação. A questão agora é não só driblar o poder das galerias, o que Hirst já fez quando decidiu leiloar todas as suas obras de uma só tacada, mas também o da crítica, até porque esse novo endereço em Londres não parece, à primeira vista, vinculado à imagem do dono. É mais um centro cultural capaz de chancelar a produção de um artista, não de qualquer artista, mas de um artista apontado por Hirst.
Além disso, o artista mais rico e famoso do mundo vai mostrar sua própria coleção com cerca de 2.000 obras nos galpões renovados pela firma Caruso St John, entre elas peças de Jeff Koons, Banksy e Francis Bacon. Em entrevista ao jornal “The Guardian”, Hirst chamou seu espaço de “minha Saatchi”, em referência ao espaço de Charles Saatchi, que lançou os Young British Artists nos anos 1990, movimento que tinha Hirst como um de seus líderes.
Nesse sentido, fica claro que as mostras da Newport poderão ter um viés mercantilista, além de escancarado o fato de se tratar de uma operação movida à vaidade. É, no fundo, mais um excercício explícito de de soft power no mundo da arte. Colecionadores como Bernardo Paz, do Instituto Inhotim, Eduardo Costantini, do Malba, Eugenio López, do Museu Júmex, e Dasha Zhukova, do Garage, vêm fazendo isso há décadas, mas Hirst, até onde eu sei, é o primeiro artista a se aventurar pelo terreno institucional.
Enquanto a Newport não abre no sul de Londres, o mais novo museu privado do mundo acaba de abrir em Moscou. Desenhado pelo “starchitect” holandês Rem Koolhaas, o Garage, espaço dirigido por Dasha Zukhova, mulher do bilionário Roman Abramovich, acaba de abrir na capital russa como último exemplo de espaços-ostentação para a arte contemporânea.