Na crise, galerias apostam em arquitetura de ponta
Enquanto a crise econômica corrói instituições culturais no país, algumas galerias vêm apostando na recuperação do mercado com novos espaços. Inaugurada no último fim de semana, a nova sede da Casa Triângulo, que trocou um sobrado no Itaim Bibi por um amplo galpão nos Jardins, foi projetada pelo escritório Metro, liderado por Martin Corullon. O caixote de esquina que já funcionou como loja e locadora de vídeos agora é um elegante cubo branco de linhas retas e austeras, com uma larga faixa translúcida correndo ao longo da parte debaixo da fachada.
Não é a primeira galeria de Corullon, que trabalhou com Paulo Mendes da Rocha na Leme, no Butantã. Ele também parece ter adaptado ao espaço da Casa Triângulo a leveza que marca seus projetos de expografia, como o que já fez na Bienal de São Paulo há quatro anos e o que vem fazendo no Masp ao reler a obra de Lina Bo Bardi. “A gente propôs esvaziar aquele cubo todo por dentro e manter uma faixa de translucidez, que dá uma certa luminosidade de dentro para fora e de fora para dentro”, diz o arquiteto. “Esvaziamos os acabamentos e fizemos um novo volume, um mezanino metálico. Mas o mais legal desse projeto é que ele tem um recuo grande para a calçada e tem no fundo um pátio que a gente resolveu deixar bem aberto, criando uma extensão do piso para fora. A ideia era aproveitar essa condição de esquina, que tem uma relação boa com a área da rua, para integrar esses espaços internos à galeria, um pouco como a gente fez na Leme.”


Nesse sentido, a Casa Triângulo é a mais nova galeria numa rua que já concentrava outras casas, como a Zipper, a Dan e a Emma Thomas, formando um corredor das artes visuais nos Jardins. Em breve, Luciana Brito também vai engrossar o time da região ao se mudar de seu espaço na Vila Olímpia para uma casa projetada pelo modernista Rino Levi na avenida Nove de Julho. Primo da galerista, o arquiteto José Armênio de Brito Cruz, está agora reformando esse imóvel para receber em abril a nova sede da Luciana Brito. “Fizemos uma pesquisa grande com a Luciana e o pessoal do escritório, pesquisamos as plantas originais que hoje estão na FAU e estamos recuperando tudo”, conta Brito Cruz. “E a atitude para a galeria funcionar vão ser sobreposições sobre essa belíssima arquitetura. A Luciana teve uma sensibilidade muito grande ao perceber que o espaço de uma galeria é cultura também, então está colocando à mostra esse projeto que é incrível.”


Não muito longe dos Jardins, o centro da cidade, onde já funciona o Pivô e a Sé, também amplia seu circuito de galerias. No porão de um prédio da praça Roosevelt, que ainda abriga o segundo palco da companhia de teatro Os Satyros, a galeria Fita Tape, nova empreitada de um dos antigos sócios da Logo, acaba de abrir as portas. Mesmo um tanto escondido, o espaço tem um enorme pé-direito e paredes sem revestimento, que dão um ar industrial ao espaço da galeria.
Enquanto isso, a galeria Boatos Fine Arts está deixando seu acanhado espaço numa esquina da avenida Rebouças, nos Jardins, para ocupar um andar inteiro de um prédio na rua 24 de Maio, em frente à praça da República. A italiana Anna Bergamasco, uma das sócias da galeria, conta que essa nova sede tem mais a ver com o espírito da casa e os jovens artistas que eles representam.
