Artista cria galeria de retratos dos homens da Lava Jato em estudo sobre a ‘psicologia do poder’
Além das páginas do noticiário, um grupo de homens, entre eles alguns dos mais poderosos —e corruptos— do país, vem frequentando uma pequena galeria do Leblon, na zona sul do Rio. Gabriel Giucci, artista brasileiro radicado nos Estados Unidos, criou ali uma galeria de retratos de personalidades citadas na Lava Jato, como o deputado Eduardo Cunha, os senadores Aécio Neves, Fernando Collor e Renan Calheiros e o executivo Marcelo Odebrecht.
Não são retratos edificantes, nem ataques simplórios. Todos esses homens, rindo, bocejando ou vociferando contra alguém, surgem em instantes congelados roubados da transmissão da TV ou de páginas de jornal. Enquanto Giucci recorre a estratégias clássicas do retrato e da pintura, do claro-escuro de um Caravaggio ou Rembrandt ao gestual vertiginoso de um Francis Bacon, o fato de retratar ali homens hoje alvo da ira nacional dá um verniz ambíguo à operação.
Desde que arte é arte, um retrato já carrega no DNA uma questão de aura. Ser retratado indica poder e importância num determinado grupo social, ou pelo menos o poder e recursos necessários para se fazer imortal num quadro a serviço da memória. Na série de Giucci, batizada “Desvio”, o ar de nobreza se mistura ao que ele entende como “a psicologia do poder”.
“Não queria me ater a um formalismo de retrato frontal clássico, mas sim a uma certa representação solta, de caráter mais gestual, rindo, bocejando, gargalhando, indagando, refletindo, combatendo”, diz Giucci. “Imagens que pudessem ultrapassar o personagem a fim de não ser uma representação pessoal e que pudessem entrar em uma esfera de condição humana.”
Giucci não dá nomes a seus retratados e diz que escolheu as imagens com base na expressividade da fotografia encontrada. Também não se ateve à gravidade das denúncias que pesam contra eles. Mesmo sem nomes, qualquer pessoa que não tenha vivido numa caverna nos últimos meses não deve ter dificuldade alguma de identificar aqui seu malvado favorito.