Ex-parceiro de Paulo Bruscky reivindica autoria de performance do artista na atual Bienal de Veneza
Ex-parceiro criativo de Paulo Bruscky entre as décadas de 1970 e 1990, Daniel Santiago vem atacando o ex-amigo por esconder seu envolvimento na elaboração da performance que realizou em maio na abertura da Bienal de Veneza, uma obra concebida pela extinta dupla Bruscky & Santiago.
Nos Giardini da mostra italiana, Bruscky empilhou caixas do tipo usadas para embalar obras de arte, executando só agora uma ação pensada pelos dois em 1973. Um telex daquele ano traz, de fato, o nome dos dois artistas como autores da performance.
Santiago, que acusa o ex-parceiro de só querer ganhar dinheiro com a venda dessas caixas, postou uma imagem do documento nas redes sociais. O mesmo telex também está reproduzido no catálogo da Bienal de Veneza, que não faz, no entanto, qualquer menção a Santiago ao descrever o trabalho como um “marco pioneiro da arte conceitual da América do Sul”.
Bruscky diz que fez questão que o telex fosse mostrado e reconhece a autoria compartilhada. “Ele pode dizer o que quiser, não me incomoda. Não tenho culpa da minha projeção.”
Atualização Depois da publicação da nota acima, o artista Daniel Santiago publicou um comentário em seu perfil no Facebook dizendo que a redação do texto foi “capciosa”, sugerindo que eu tenho algum tipo de ligação com a galeria Nara Roesler e por isso teria dito que ele está “atacando”, termo meu, seu ex-parceiro criativo Paulo Bruscky. Esclarecendo qualquer dúvida, e demonstrando que seu tom em nossa conversa foi, sim, de ataque, publico abaixo a íntegra de nossa conversa por telefone.
Ele transformou a obra numa performance. Aquela obra não era para ser feita em performance. Aquela obra foi mandada por telegrama para um salão no Paraná. O pessoal do salão devia pegar todas as caixas que embalaram as obras dos outros artistas e colocar em exposição dentro do salão. E o nome do trabalho era “Arte Se Embala Como Se Quer”.
Esse telegrama está no meu Facebook. E esse telex foi publicado num livro de Paulo Bruscky.
Ele repetiu uma obra da equipe Bruscky Santiago. E essa obra foi boa porque aquelas caixas agora vão valer muito para a galeria da Nara Roesler. Cada caixa daquela agora vai valer uma fortuna. A gente não podia mandar essa proposta na época porque já era tarde.
Não sei se fizeram. Mas o próprio telegrama já era uma obra de arte completa.
Ele não fala nada. Tem uma escultura de gelo que ele repetiu umas cem vezes, e é da equipe Bruscky & Santiago. Quando ele tinha uma ideia, ele fazia individualmente. Quando é da equipe, eu que fazia. Eu fazia porque era bom de trabalhar em equipe.
Não reclamo nada. Só estou publicando isso, que é para esclarecer para a história da arte, para os curadores e os jornalistas saberem. É curioso pelo seguinte: um trabalho feito em 1973 em 2017 está na maior bienal do mundo. Como é que um trabalho feito em 1973 agora estoura numa bienal no século 21? Achei curioso isso. O artista fica satisfeito.
Se fosse eu que fosse fazer esse trabalho, não teria feito daquele jeito. Aquele trabalho foi uma performance meio brega. Ele está com uma cara que parece que está doente. Não gostei daquela roupa dele, ele devia estar de paletó e gravata, de acordo com a Bienal.
Não quero dinheiro nenhum. Estou só dizendo o que aconteceu. Estava até pensando que você não publicava alguma coisa a esse respeito porque talvez a galeria tenha bom relacionamento com a Folha de S.Paulo.
Não é a primeira vez que ele faz isso não. Na 29ª Bienal de São Paulo, o Moacir dos Anjos me chamou para fazer um trabalho na Bienal de São Paulo. Eu fui para São Paulo para ver o ambiente onde seria o trabalho. O título era “A Democracia Chupando Melancia”. Fiz três propostas e mandei para a Bienal de São Paulo. Ele passou o tempo todinho, acabou a Bienal, e ele não me disse nada. E o Paulo saiu com a fogueira de gelo, que foi um trabalho nosso para o Salão de Recife e foi feito depois na exposição de escultura efêmera de Sérvulo Esmeraldo em Fortaleza. Essa fogueira de gelo foi exposta lá. Foi a escultura mais efêmera que houve na exposição.
Aquilo ele repete várias vezes. Ele, como já é um artista consagrado, na Bienal de Veneza deveria ter colocado um trabalho dele, somente dele, ou que criasse um trabalho do arquivo dele. Mas ele bebe muito, sabe? Estou achando que ele está em crise de criação, porque pegar um trabalho lá atrás, de 1973.
A coisa é outra. Eu não faria isso. Ele não me disse nada. Se ele tivesse vindo falar comigo, não teria feito aquela performance, nem tinha colocado esse trabalho, porque a equipe Bruscky & Santiago tem trabalhos mais bonitos para uma Bienal de Veneza. Aquilo que é bom para vender as caixas. Com esse negócio de lavar dinheiro agora, de político comprando obra de arte.
Ele está esperando só que eu morra para escrever um livro. Ele fica tranquilo em fazer as coisas, que eu não faço isso. Ele ganhou muito dinheiro com isso.